#25 – 102/302 – Brasília – DF

102 - 302 - Asa Sul - Brasília - DF

Alguns nomes afirmam que Brasília é um museu a céu aberto e que se você é entusiasta da arquitetura moderna, você deve conhecer a Capital Federal, pelo menos uma vez na vida. Construída para ser a nova capital do Brasil e forçar o deslocamento da população litorânea brasileira para o interior, Brasília alcançou o objetivo de conectar o país.

Vista de cima, a jovem e moderna capital tem o formato (um pouco estranho) de um avião. Esse traçado singular é obra do talentoso urbanista Lúcio Costa.

Lúcio Costa foi o vencedor do concurso, em 1957, para elaborar o projeto urbanístico da Nova Capital, que teve seus riscos inspirados pelo sinal da cruz e que gostamos de comparar ao formato de um avião.

A cidade foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960 e tornou-se a terceira capital do Brasil.

Mais duas pessoas ajudaram a desenhar o que hoje é chamado de Plano Piloto. O arquiteto Oscar Niemeyer desenhou a maioria dos edifícios oficiais de Brasília e o paisagista Roberto Burle Marx projetou os jardins de alguns dos principais monumentos da cidade.

No entanto, como a preocupação maior era a sede da nova capital e a importância superestimada do funcionamento administrativo do novo centro de poder nacional, esqueceram de pensar em integrar e incluir os construtores e verdadeiros heróis anônimos da cidade.

Brasília se confunde entre Plano Piloto (o traçado do avião) e as cidades-satélites, mas o que restou a esses heróis anônimos foi ser varrido e deslocado para as embrionárias cidades-satélites.

Para tentar se redimir e quem sabe um pedido de desculpas ou um plano para suprimir o termo (antes pejorativo) de candango, fizeram uma escultura na Praça dos Três Poderes. Apenas isso!

As pessoas que nasceram em Brasília (não são muitas) e amam “Eduardo e Mônica” (são muitas) do Renato Russo, podem não entender e achar normal como funciona o “quadradinho”, mas quem vem de fora logo percebe.

Se você conhece um pouco sobre como a África do Sul é altamente segregada e dividida, vai entender o que estou falando.

É tão notável que há muita gente que mora na Asa Sul ou Sudoeste (bairros nobres, caros e localizados no Plano Piloto) que nunca foram em Taguatinga ou Ceilândia e pior, não tem a menor noção, para que rumo ficam.

Notável também é o preconceito que rola se souberem que você não mora em algum ponto do “Plano”.

Wrong.

O pontão do lago sul é realmente muito lindo, mas é altamente seletivo também, por isso gosto muito mais da Ermida Dom Bosco, que é a minha recomendação se você quiser pegar uma das melhores vistas do Lago Paranoá, e claro, o melhor pôr do sol em Brasília.

Outro lugar que gosto muito e que tem uma vista muito legal da cidade, do Lago Paranoá e da Ponte JK (ou terceira ponte) é no alto do mirante do Jardim Botânico de Brasília.

É um lugar que realmente vale a pena e nem 10% das pessoas que moram no “quadradinho” conhecem.

Muitos conhecem o Jardim Botânico do Rio e se encantam com aquele lugar, mas essas mesmas pessoas nunca foram no Jardim do Planalto Central.

Acho que não valorizamos o que é “prata da casa”…

Brasília tem muito shopping e alguns parecem ser exclusivos, como o Iguatemi do Lago Norte. Mais uma vez, prefiro comprar abacate e minha erva-mate favorita (para tereré) na Feira do Guará.

Se você tiver sorte, há uma época do ano em que as árvores do caminho até a feira, estão repletas de flores. Se você é morador do Guará, observar aquilo depois de algum trânsito na L4 (calma que vou chegar nas siglas) e de um chefe chato, pode te fazer esquecer do dia pesado no trabalho.

Não precisa passar por ali para observar as árvores floridas, pois como Brasília foi bem planejada, até a arborização da cidade é exemplar.

Passeando pelo eixão (melhor fazer isso no domingo ou feriado, pois os carros não podem circular por lá e até o eixo vira eixão do lazer) você observará Ipês nas mais variadas cores.

Na verdade, é quase uma celebração a chegada das floradas dos ipês na cidade. Talvez por isso a cidade é lembrada como cidade-parque ou é citada como Capital do Ipê.

Gosto muito do ipê-roxo, mas ao lado da placa de rua de hoje, há um monte de ipê-amarelo, situado no Eixão, em frente ao Banco Central.

Parece que não há pessoas nas ruas, apenas automóveis.

Se você quiser ver gente, vá até a rodoviária do Plano Piloto, ou melhor, saia do Plano…

Brasília é toda dividida e apesar de ser bem planejada, também é cheia de siglas confusas e endereços malucos. Começando por seu nome BSB (que também pode ser DF).

No início a galera que vem de fora estranha bastante e realmente fica difícil saber o que seria SAAN (setor de armazenagem e abastecimento norte), SCLRN (setor comercial local residencial norte), SHCNW (setor de habitações coletivas noroeste), SIA (setor de indústria e abastecimento)…

Até mesmo as rodovias e os hospitais adotaram as siglas cheias de consoantes. EPNB (Estrada Parque Núcleo Bandeirante), EPTG ( o T não é de Trânsito, ok? Significa Estrada Parque Taguatinga), HRAN (Hospital Regional da Asa Norte)…

O que no começo pode ser confuso, há uma lógica de racionalidade para o plano piloto e depois de algum tempo na cidade, encontra-se com muita facilidade qualquer endereço de BSB, como 102/302 Sul ou 408 Norte.

Não se esqueça da 408 Norte, pois há uma seleção de bares muito legais nessa quadra, também conhecida como “quadrilátero da bebida”.

Escolha um bar que você não precise (depois de muito chopp) subir ou descer escadas para ir ao banheiro.

Localização é tudo e o fato dessa quadra estar perto da UnB faz toda a diferença.

Não vale a pena repetir alguns clichês do tipo “Brasília é uma cidade fria”…

Tripulação… ainda que leve um tempo, vocês vão notar que é uma cidade maneira e com uma galera massa.

Natiruts e Legião Urbana nasceram aqui…

Um dos festivais mais loucos (Porão do Rock) é celebrado em Brasília.

Uma coisa estranha é que Brasília costuma ter as quatro estações do ano em apenas um dia. Isso é tranquilo, mas cuidado com as cachoeiras da Asa Norte, no período das chuvas…

Outra coisa que não é verdade e que irrita bastante é que no imaginário dos brasileiros subsiste a ideia de que todos os que vivem no DF estão ligados ao Poder ou metidos em algum esquema milionário de corrupção e desvio de dinheiro público.

Wrong.

Por ser bem dividida, uma desvantagem que pode acontecer: você morar no Gama, trabalhar na Asa Norte, seus pais morarem em Sobradinho e seus melhores amigos dividirem casa em Taguatinga. Haja quilometragem!

Uma coisa que não gosto, mas que infelizmente é verdade na Capital Federal é a umidade relativa abaixo de 13% em alguns meses do ano. Isso somado à fumaça dos incêndios no cerrado. É realmente péssimo e algo difícil de conviver.

Se a umidade é horrível, o céu de Brasília compensa. É um dos mais bonitos de todos. Alguns dizem que é o mar daqui. Com certeza, é impossível não se impressionar com ele.

Gosto ainda mais do céu de Brasília, pois ele é totalmente inclusivo, belo e gratuito. Ao lado dos pássaros bem-te-vi e dos ipês, acredito que o céu do Planalto Central, representa um dos maiores patrimônios naturais do cerrado.

Antes de deixar a superquadra, sair das quatrocentas, pegar a tesourinha, cair na EPIA e partir para Pirenópolis ou fazer sua trilha e o circuito das cachoeiras na Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso, você deve visitar alguns pontos de interesse.

Para ter uma visão impressionante e entender perfeitamente o desenho do avião de Lúcio Costa, você deve subir na Torre de TV, localizada no Eixo Monumental.

Você pode ver corretamente o formato da cidade, alguns monumentos da arquitetura moderna do Niemeyer, a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes, o Parque da cidade Sarah Kubitschek e o imenso Lago Paranoá.

Ao descer você pode visitar a feirinha da Torre e comprar algum artesanato por lá, mas não invente de comer naquelas barracas.

Seu roteiro arquitetônico deve começar pela Esplanada dos Ministérios…

Não deixe de visitar o exterior da Catedral Metropolitana, que é o símbolo de Brasília, o interior do Santuário Dom Bosco, na avenida W3 (eu sei, mais uma sigla) e os azulejos de Athos Bulcão, na Igrejinha (308 Sul).

A Igrejinha Nossa Senhora de Fátima é um dos exemplos de suavidade e leveza mais representativos do arquiteto Oscar Niemeyer.

Você não pode deixar de conhecer o Palácio do Itamaraty. Com certeza, é um dos mais belos prédios do Niemeyer e há visitas guiadas e gratuitas.

Na verdade, se você é da área de arquitetura, tenha em mãos o nome das obras do Niemeyer e conheça todas elas.

São fáceis de reconhecer: muito concreto, brancas e com as curvas da mulher brasileira.

Old Misa

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