#45 – Avenida Álvaro Otacílio – Maceió – AL

Avenida Álvaro Otacílio

14h19.

Essa é a primeira coisa que vejo na tela do meu celular depois de um sono profundo…

Depois de mais de dez anos viajando pelo mundo, como de costume, continuo acordando bem depois do café da manhã…

É claro que há exceções, mas são muito raras…

E às 14h19 em Maceió, o sol já tinha brilhado e iluminado boa parte da costa alagoana dos corais e deslocava-se apressadamente rumo ao poente…

Na verdade, é um rápido e belo espetáculo que, na correria do dia a dia, esquecemos de apreciar.

Depois de um ritual matinal lerdo e com prioridade para a limpeza dos dentes, coloco um tênis não confortável e desço para uma corrida “matinal” na orla da capital alagoana.

Costumo chamar isso de reconhecimento de território…

O ritmo é lento como as praias de águas cristalinas de Maceió…

O ponto de partida é no azul piscina de Pajuçara onde sábias jangadas escolheram um cantinho pé na areia como lar…

Não demora muito e já percebo que a orla de Maceió é uma das mais bonitas e bem cuidadas da América do Sul.

Antes de passar pelo terceiro carrinho de picolé que berrava: “picolé e sorvete Caicó; picolé e sorvete Caicó”, vejo um membro imortal da Academia Brasileira de Letras sentado embaixo de alguns coqueiros…

Provavelmente martelando algumas palavras novas…

Nada mais nada menos que Aurélio Buarque de Holanda, autor do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa…

Também natural da “terra dos marechais”…

A orla é realmente linda e apresenta um cenário perfeito para fotos incríveis…

Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca na ida e Jatiúca, Ponta Verde e Pajuçara na volta…

Não posso esquecer de citar o nobre cruzamento “Gogó da Ema” que está ao lado do letreiro viralizado “Eu Amo Maceió”…

Curva do Gogó da Ema
Curva do Gogó da Ema

5,8 km no total, porém, com um prazo dilatado…

Satisfatório!

O ponto de virada em Jatiúca foi no cruzamento da avenida Álvaro Otacílio com a avenida Dr. Antônio Gomes de Barros.

Assim, como a Álvaro Otacílio era minha referência no ponto de virada da corrida, ela também ficou como minha referência e meu modelo de placa de rua da capital alagoana.

Um exemplar nato, já que Álvaro Otacílio de Araújo Vasconcelos foi um próspero proprietário de imóveis nascido na “terra dos marechais”, no tempo dos marechais e na cidade dos marechais…

A área hoje conhecida como Ponta Verde era uma das inúmeras propriedades do Senhor Álvaro Otacílio e teve que ser desapropriada para a ampliação da malha urbana do litoral de Maceió.

E que bom que eles souberam fazer um projeto de orla decente…

Se meu ponto de virada já foi informado, meu ponto de parada foi em uma barraca de praia chamada Lopana.

Logo depois percebi que se tratava de um lugar para comer bem do tipo “ver e ser visto” a beira mar…

Precisava apenas de uma água de coco e de uma tapioca para repor minhas energias, mas o meu desjejum acabou sendo outro…

Por força do hábito, acabei pedindo uma roska de siriguela e posteriormente um caldo de sururu…

Tudo muito delicioso…

Havia um jornal Valor Econômico solitário na mesa ao lado e que acabei por esticar o braço e pegá-lo emprestado por alguns minutos…

A matéria de capa era uma fusão de duas gigantes do setor alimentício…

Como é um setor que não tenho interesse pulei direto para as cotações…

Enquanto me perdia olhando algumas cotações, uma turista mais velha mostrava orgulhosa para uma amiga ainda mais velha, uma bolsa muito bem trabalhada por mãos habilidosas de rendeiras locais…

Sua mais nova aquisição provavelmente veio da feirinha de artesanato de Pajuçara que estava a poucos metros da barraca.

O garçom veio me oferecer uma cachaça envelhecida do tipo ouro do engenho de Caraçuípe…

Recusei a cachaça e pedi uma água…

Sabia que o meu corpo cobraria um preço muito alto lá na frente por começar o dia com uma roska de siriguela, mas agora sim, eu estava equilibrando as coisas…

Cobraria talvez um preço ainda mais alto por estar olhando cotação quando deveria estar interessado em coisas como tábua das marés e passeios de jangada…

Enfim… 

Nesse momento lembrei de dois amigos que moraram em Maceió e se mudaram para o cerrado brasileiro em busca de “uma vida melhor”…

Uma vida melhor aqui significa mais dinheiro…

O sotaque desses dois camaradas é exatamente o mesmo e são fanáticos por times que não têm nomes, mas apenas três letras…

Enquanto o primeiro gosta das letras na ordem CRB, o segundo tem preferência pelas três letras na ordem CSA…

Povo valente!

Coisas de alagoanos… vá lá entender!

Só não consigo entender como pessoas esclarecidas e articuladas deixam um paraíso como Maceió para viver no meio do cerrado em busca de “uma vida melhor”…

Vale a pena?

Há uma coisa chamada qualidade de vida que deve se fazer presente em qualquer equação…

Pena que o anonimato seja uma arte em extinção, mas esses malucos poderiam estar vivendo uma vida de marajás, sem serem de fato marajás…

E melhor ainda, invisíveis ao “caçador de marajás”…

Com cerca de uns doze por cento de gorjeta, deixo a Lopana em busca do meu apartamento alugado…

Seis dias de vista pro mar…

O tempo é cruel e só temos o hoje…

Caramba!

Como pode passar tão rápido?

Chego quase ao mesmo tempo que uma van branca com um bando de turistas…

Provavelmente estavam vindo das praias do litoral sul e enquanto o motorista combinava mais um passeio com o mesmo grupo para o dia seguinte, tentei guardar a canção que emanava de dentro da van…

E é com ela que fico por aqui…

(Ponta de Lápis – Eliezer Setton)

“M” de mar…

“A” de amor…

“C” de carinho, sol e mar de Maceió…

“E” de eterno…

“I” de ilusão…

“Ó”, Maceió, você roubou meu coração!

Ai que saudade do céu, do sal, do sol de Maceió…

Ai que saudade do céu, do sal, do sol de Maceió…

Old Misa

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