#15 – Calle Cochabamba – Potosí – Bolívia

Calle Cochabamba em Potosí, na Bolívia

O caminho até Potosí é lindo, repleto de lhamas e alpacas decorando a paisagem, mas o soroche (mal de altitude) começa a fisgar. A bochecha muito avermelhada (quase uma crosta) e o nariz nada limpo do pequeno niño, que está nas costas da jovem cholita (amarrado com uma preciosa manta de colores) vão denunciar os mais de 4.000m de altitude.

(Alguns anos depois – perdido por aí – vi esses niños tão fielmente retratados, em uma praça de Miraflores, em Lima, no Peru, por um humilde artista plástico chamado Lucio Cuzcano. O cara é genial).

O frio também te fará companhia, mas para isso há o bom e velho Kohlberg. Primeiro para o santo, ou melhor, para a deusa Pachamama (Mãe terra). “Hay que mantener la tradición”.

Depois de fertilizada a terra, hora de traçar os planos para visitar a mina da montanha (Cerro Rico) que abasteceu o país colonizador por anos. Você pode ler Eduardo Galeano (As veias abertas da América latina) e conferir.

Se você for claustrofóbico, nem invente de entrar em uma mina. Ok, se você não tiver problemas com isso, com certeza também se sentirá muito mal pelas más (horríveis) condições de trabalho. Antes de perguntar para seu Deus, o que é aquilo? Peça para o humilde y gracioso minero, não mais usar aquela camisa de um clube espanhol bastante conhecido.

Frei Domingo de Santo Tomas, que viveu à época, em Potosí, disse muito bem: “Não é prata o que se envia à Espanha, é o suor e sangue dos índios”.

A pobreza do homem como resultado da riqueza de Pachamama. É conhecido que até as ferraduras dos cavalos eram de prata na época do auge, do esplendor de Potosí.

“Don Quijote de la Mancha habla con otras palabras: Vale un Potosí, advierte a Sancho!” Essa é a mesma frase que você vai ver escrita no fundo do ônibus que tomará rumo ao precioso Salar do Uyuni: Vale un Potosí! Não se esqueça!

“España tenía la vaca, pero otros tomaban la leche”. Também fomos colonizados por um país ibérico e sabemos muito bem o que é isso (exatamente).

É triste conhecer um passado tão rico, mas que hoje está condenado à nostalgia. Atormentada pela miséria de seu povo e também pelo frio. Ainda é uma ferida aberta do sistema colonial na América do Sul. O mundo deveria começar por pedir desculpas.

Melhor voltar para as mantas de colores das simpáticas cholitas.

Melhor voltar para minha placa de rua desta cidade, Patrimônio Mundial da Unesco, em cerâmica vermelha (mesma cor do sangue derramado dos nossos Aimaras, Charcas e Collas… Para não sentir tanta amargura, melhor pensar que é a mesma cor do batom da Mélanie Laurent).

Melhor voltar para nossa charla. Enquanto o minero preparava as folhas de coca e o jovem casal austríaco cuidavam do asado, voltava a retirar a rolha de mais uma garrafa do velho Kohlberg.

Não sei se foi muito vinho, mas a placa de rua que está aí em cima é de uma outra cidade da Bolívia. Calle Cochabamba. Interessante isso.

Trata-se do centro histórico de Potosí. A atual rua Cochabamba era a antiga Calle del Aparecido. Aproveite para conhecer a Casa da Moeda e o vasto patrimônio arquitetônico das Catedrais (o residual do período esplêndido).

Se puder, visite também el ojo del inca e lembre-se de brincar de viver.

Vale un Potosí !!

Old Misa

#14 – Isabel la Católica – Ciudad de México – CDMX
#16 – Vám utca – Budapeste – Hungria – Magyarország

Deixe uma resposta