#40 – Calle de Abades – Madrid – España

Calle de abades - Madrid - España

Barajas (MAD) – Madrid – España

Você acaba de chegar no principal aeroporto da Espanha e está muito feliz por isso. A viagem foi longa e cansativa, mas antes de pisar efetivamente em solo europeu, você precisa enfrentar a temível fila de imigração…

Você se dá conta que o controle é demorado para alguns e facilitado para outros quando um hippie barbudo pega uma fila exclusiva e rapidamente é recebido com um sorriso (e também um sonoro bienvenido!).

Até aí, tudo bem!

Chega a sua vez…

Quando te fazem a primeira pergunta em um outro idioma, você se dá conta que todo aquele conhecimento da língua castelhana que você imaginara ter, rapidamente desaparece…

Naquela época era tudo festa e você não tinha a menor noção para perceber o quanto seus pais se matavam de trabalhar para te dar uma educação de qualidade.

Agora, você já terminou seu curso de graduação, porém, ainda não está trabalhando…

A anteninha da moça da imigração começa a emitir sinais de alerta quando ela descobre que você não trabalha e não estuda, e então, começa a endurecer nas perguntas…

Você começa a ficar nervoso…

Te levam para uma salinha onde você consegue enxergar um cartaz que revela o seguinte dado assustador: os brasileiros são o segundo povo mais barrado em aeroportos na Europa (Fonte: Agência Europeia de Gestão da Cooperação nas Fronteiras Externas – Frontex).

Diga adeus ao Oso y el Madroño, pois você será deportado…

O sonho acabou!

Esqueça o Santiago Bernabéu…

Você não vai tirar aquela foto com a sua camiseta da série “La casa de papel” na frente dos prédios reais da Casa da Moeda e do Banco de España…

Infelizmente, você não terá a sorte de contemplar a placa de rua da Calle de Abades. Em estilo antigo, ela permanece firme e forte, em pleno centro fervilhante de capital espanhola.

Sei que você nem repara nas placas de rua, é eu sei, mas Guernica de Pablo Picasso é difícil de passar batido.

Mesmo viajando sem “segundas intenções”, você foi barrado e vão te mandar de volta no primeiro avião disponível.

Não tem “Você sabe com quem está falando?”…

É um ato puramente discricionário!

F*d3u!

Depois da humilhação e do sentimento de impotência, uma coisa fica martelando na sua cabeça…

Você simplesmente não consegue entender o que levou aquele maltrapilho hippie ganhar um bem-vindo (e um sorriso da senhorita da imigração) e coube a você apenas um carimbo de deportação.

Acontece que aquele hippie tinha um passaporte vermelho muito poderoso…

Havia nele a seguinte inscrição:

Reisepass.

Quando você começa a viajar, logo começa a perceber que alguns passaportes são mais fortes e poderosos do que outros…

Percebi isso claramente quando estava comprando os últimos trechos de uma trip que incluía Marrocos (Marrakech, Casablanca, Rabat e Chefchaouen) e um amigo mexicano que também faria os trechos anteriores comigo, teve que “recalcular a sua rota”, pois por ser mexicano, ele simplesmente não poderia entrar no Marrocos por problemas de relações diplomáticas entre os dois países…

Assim, dependendo do passaporte, ele poderá abrir muitas portas ao redor do mundo ou até mesmo poderá ser um obstáculo ao seu desejo de viajar around the world

Basicamente, o critério que define o quão poderoso é um passaporte se traduz na quantidade de países que se pode visitar sem necessidade de visto ou com visto apenas na chegada…

De acordo com a empresa Henley Partners, o passaporte alemão (Reisepass) é o mais poderoso do mundo.

Detalhe importante: este é o quinto ano CONSECUTIVO em que o país europeu lidera o ranking

Assim, quem carrega um Deutschland Reisepass, tem a facilidade de entrar em 177 países sem a necessidade de solicitar visto.

Se você tinha em mente que o passaporte azul dos Estados Unidos da América era o mais poderoso do mundo, você errou feio…

Se você estiver com preguiça de olhar o ranking no site da Henley, aqui estão os principais:

1 – Alemanha

2 – Singapura

3 – Dinamarca; Finlândia; França; Itália; Japão; Noruega; Suécia; United Kingdom (Reino Unido)

4 – Áustria; Bélgica; Espanha; Luxemburgo; Países Baixos e Suíça

Estamos em 18º ao lado da Argentina, com acesso a 158 países…

Os piores no ranking são: Paquistão (acesso a 30 países); Síria (28); Iraque (27) e Afeganistão (24).

Last but not least – acontece que outros fatores também contribuem para a composição desta lista, entre eles: impostos internacionais, liberdade pessoal, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), neutralidade, percepção internacional…

Uma imagem leva muito tempo para ser formada e os estereótipos acabam por realçá-la.

Para o bem ou para o mal…

E mesmo que você não precise de visto para entrar em determinado território, o fator “percepção internacional” contribui significativamente para sua livre entrada ou também para uma amarga deportação…

Nem preciso falar da Alemanha aqui…

É MUITO mais que 7 X 1…

Analisemos a imagem que o Brasil desfruta perante as outras Nações por meio da ótica internacional…

Enquanto desfrutávamos da nossa Independência (apenas política, pois economicamente ainda éramos extremamente dependentes), o Reino Unido nos obrigava a firmar um Tratado de Abolição do Tráfico de Escravos…

Você sabe que o pacto não foi cumprido…

Desde então, ganhamos uma expressão que nunca mais saiu de moda que é a famosa “lei para inglês ver”…

Ela está presente quando alguém (pode ser até mesmo uma instituição “idônea”) emite algo que parece ser verdade, mas você sabe nos bastidores que não é…

Um estrangeiro não consegue entender isso.

Afinal, lei é lei.

Depois veio a febre do café…

Meu professor de “Formação Econômica Brasileira” gostava de frisar que “Brasil sempre foi Brasil”…

Explicava que na época do apogeu da economia de agroexportação, muitos produtores ensacavam os fardos de grãos de café com pedaços de galhos e pedras volumosas para completar o peso da saca de café e assim poder exportar para a Europa…

Não é como o leite de caixinha de hoje que tem formol, água, soda cáustica e água oxigenada na composição, ou seja, tudo menos leite…

Naquela época pelo menos havia café e as pedras e os galhos não resultavam em câncer na população…

Tudo bem…

Passado o período entreguerras, há uma guerra não tão importante e não tão conhecida, mas que merece ser mencionada…

Trata-se da Guerra da Lagosta que aconteceu entre o Brasil e a França entre 1961 e 1963.

O contencioso girou em torno da captura ilegal de lagostas por embarcações francesas em águas territoriais brasileiras, mas o que importa aqui é que alguém (de grande envergadura) disse informalmente “que o Brasil não era um país sério”…

Verdade ou não, a frase pegou…

De lá pra cá, você já sabe o que aconteceu…

Começamos a nos especializar em algo triste chamado “o jeitinho brasileiro”, que está fazendo a função de cimentar a nossa imagem…

Você não é o carro que dirige e nem mesmo o país onde mora, mas o problema é que gostamos de estereótipos e de rótulos…

Walt Disney cria o personagem Zé Carioca. Um típico malandro preguiçoso da Zona Sul do Rio que não trabalha e consegue escapar de todos os problemas dando aquele velho “jeitinho” tão conhecido…

Zé Carioca representa toda a malandragem brasileira…

É o retrato da nossa imagem lá fora…

Note que escolheram para os EUA o Pato Donald e o Tio Patinhas, este último um típico americano Multimilionário do tipo Self-Made Man

Você pode até achar injusto, mas se você analisar os inúmeros planos econômicos; as várias constituições desde a Independência; calote da dívida; suspensão dos pagamentos dos juros da dívida externa; desvios bilionários; “Anões do Orçamento”; invenção do “caixa – 2”; corrupção; “Operação Navalha na Carne”; Petrolão; Operação Lava Jato; Queima de arquivo; Impeachment; Mensalão; dinheiro na cueca; fraudes milionárias no INSS; escândalos dos bingos; excesso de burocracia; Tráfico de drogas; Tráfico de armas; Fundos de Pensão; Carne de Papelão; Desigualdade; “Vampiros da Saúde”; “Operação Condor”; “Operação Zelotes”; Impunidade; Fraudes nas urnas; Confisco da Poupança; CPI da Covid…

Não posso esquecer das misteriosas e inexplicáveis quedas de aviões e nem da vergonhosa mídia brasileira…

Deveria acrescentar que o azeite não é azeite e a cerveja não é cerveja…

É muito triste para a memória da Nação…

Como confiar?

Em quem confiar?

Seria o povo brasileiro o problema do Brasil?

Do mesmo modo que a vida é um espelho, o mundo exterior (“percepção internacional”) nada mais é do que o reflexo do nosso mundo interior…

Como aquela senhorita da imigração vai confiar em você se nós confiamos apenas nos bombeiros e nos correios??

Ela provavelmente viu o filme da história trágica do “Jean Charles” e prestou muita atenção na parte que a pessoa consegue inventar mentiras muito reais para conseguir entrar na “Terra da Rainha” e escapar do vexame da deportação…

Ela provavelmente assistiu aos jogos da última Copa do Mundo e viu o nosso maior craque ser motivo de piada mundial…

Seria mesmo um jogador de futebol ou um ator?

Como confiar nos brasileiros?

Tá certo que não podemos mudar nosso passado, mas podemos começar a partir de agora a construir dias melhores…

Esqueça a síndrome do “vira-lata” e pare de interpretar o exterior como paraíso…

É hora de começar a organizar a casa…

Apesar de todos os problemas, somos a sétima maior economia do mundo baseado no PIB nominal…

Temos a quinta maior extensão de terra no mundo com a maior biodiversidade do planeta e condições muito favoráveis para produção agrícola, industrial e o que você pensar…

O Brasil é o maior detentor de água doce no mundo…

É inacreditável o potencial do nosso país…

O lance é que o fator “percepção internacional” gosta mais dos aspectos negativos como corrupção, violência, burocracia e desigualdade…

Com investimento bem pensado e estratégico em educação, o cenário pode mudar…

Vide o exemplo da Coreia do Sul e de Singapura…

Tripulação, observe o tamanho desses países…

De acordo com a Henley, Singapura tem o segundo mais poderoso passaporte no mundo.

Bons exemplos não faltam…

Como disse Nelson Mandela, “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o seu mundo”…

Passaporte brasileiro

E se você quer ter um passaporte respeitado no futuro para você e também para os seus filhos, a mudança começa em você…

Esqueça a ideia de querer levar vantagem em tudo…

Simplesmente seja a mudança que você quer ver no mundo e tudo ficará bem…

Old Misa

#39 – Rue Chorus – Cran-Gevrier – França – France
#41 – Frauenplatz – Munique – München – Alemanha – Deutschland

Comments

  1. Muito bom Big Misa!!

    Realmente é inacreditável o desperdício de potencial que temos por conta do “jeitinho brasileiro”, e que como você relatou, está enraizado no nosso passado.
    Eu acredito que podemos mudar, na verdade, já estamos mudando. Acredito que o caminho começa pela oportunidade de alimentação segura para todos. Sim, alimentação segura! Engloba produção, conhecimento, respeito, respeito comigo, com meu próximo, respeito pela terra, pela natureza….. e quem quiser rotular de produção orgânica, sintropia que rotule, enfim.

    Abraços e espero estarmos juntos na sua próxima inspiração para o “Placa de Rua”!!!

    • Hey Big Shara!!
      Também acredito que podemos mudar e que tudo está conectado!
      Estamos exaurindo os recursos da terra e poluindo a água, o ar e o solo…
      Estamos tirando tudo da natureza para dar vazão a um consumismo irresponsável, orientado pela ganância…
      O respeito pela terra deve ser fundamental e a produção deve ser responsável…
      Acredito que podemos melhorar e a mudança, ainda que lenta, já começou…
      Muito obrigado pela contribuição!!
      Abraço!!

  2. Falou tudo Oldmisa. Infelizmente estamos nessa situação e precisamos começar a mudar, pois será lenta…

  3. Nem nos correios podemos confiar mais…rsrs. Muito bom o texto <3

  4. Diego Costa Monteiro
    setembro 28, 2018 - 5:29 pm

    Muy Bueno viejo Misa. Até Nelson rodrigues apareceu. Vamos a la A Vilaaa

  5. Eu sempre falo que o problema do Brasil são os brasileiros e que a diferença está nas pequenas coisas. Por exemplo, furar a fila, pegar troco que não é seu, jogar lixo na rua e etc. Se queremos um país melhor, temos de melhorar como pessoa. Parabéns pelo texto, Old Misa.

  6. Old Misa cada vez mais se superando nos posts! Top!!! Excelente análise! O Título é bastante sugestivo e reflexivo em harmonia na explanação do texto… Parabéns! A mudança cultural do nosso país começa como com as nossas atitudes… Lembrei-me de uma parte desta música:

    “…Estou começando com o homem no espelho;Estou pedindo a ele que mude suas atitudes; E nenhuma mensagem poderia ter sido mais clara: Se você quer fazer do mundo um lugar melhor; Olhe para si mesmo e faça uma mudança….” MAN IN THE MIRROR – MJ

    • Caramba Thiagão!!
      Você é inalcançável mesmo irmão!
      Que show!!
      Man In the Mirror – Sensacional!!
      Obrigado irmão!!
      Valeu

  7. Que ótima reflexão mlkin…precisamos mudar estereótipo, vamos seguir nesse caminho e ser forte não desistindo do nosso Brasil, mesmo com tantas dificuldades no caminho.Positividade Sempre!!!
    Abraço!!

  8. Confesso que fiquei um pouco “chocada” com tantos exemplos e criticas sobre o Brasil, um país que a mim remete sentimentos melhores. Mas o que achei mais legal no texto é a mensagem final: uma mudança é possível e ela começa com pequenos gestos. E é nosso dever fazer isso sem esperar que venha do outro.
    Parabéns pela iniciativa Old Misa 🙂

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