#29 – Rua Engenheiro Souza Lima – Salvador – BA

Rua Engenheiro Souza Lima

Salvador é uma das cidades do Brasil mais conhecidas lá fora. Já tive a oportunidade de observar vários guias de viagem sobre o Brasil, em línguas estranhas e malucas, com a foto do Pelourinho figurando na capa. É claro que a liderança absoluta (e disparada) é do Cristo Redentor no Rio, mas Salvador (quer você queira ou não) reflete a cara do nosso país lá fora.

Antes de começar a falar da primeira capital do Brasil, vocês precisam saber a visão de dois dos meus melhores amigos, a respeito de Salvador.

Importante mencionar que os dois já moraram na Bahia durante bastante tempo e conhecem meio mundo (um deles inclusive, coleciona uns 5 passaportes com todas as folhas carimbadas e você que está no meio sabe o que é isso), mas hoje estão distantes…

A primeira (e positiva) versão me diz que: se voltasse a residir no Brasil, com carta branca para escolher uma única morada por aqui (do Oiapoque ao Chuí), essa seria em algum bairro de Salvador.

Ele estaria muito mais feliz no Canela, Vitória ou Ondina do que em Jurerê (Floripa) ou Ipanema (Rio).

Segundo ele, Salvador é um lugar único no Brasil, com uma energia muito boa, uma riqueza de cores, costumes, cultura e um povo sem igual.

Das estórias de Jorge Amado ao som dos tambores do Olodum e da Timbalada. Da ginga da capoeira no Farol da Barra à Cerimônia de lavagem da escadaria da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, pelas baianas com seus trajes impecáveis. Do sincretismo baiano ao estilo de vida soteropolitano. Das praias, da história e do carnaval…

A segunda (e negativa) versão me diz que: Salvador é um inferno! Uma cidade extremamente perigosa e violenta; um trânsito caótico (com motoristas achando que estão em uma pista de autorama); crescimento bizarro e desordenado; um ambiente pesado…

Um povo que empurra com a barriga todas as obrigações e que quando executam um serviço, o negócio é todo armengado e feito a culhão (isso com uma lentidão profunda e com a cabeça apenas no próximo feriado – ou na nova música de axé – do tipo sem nada de letra, mas chiclete – e do tipo “e quem gostou diga Ôxe”)…

Tripulação… ÓPAISSO: duas visões opostas, mas como disse Rubem Alves: “Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos”.

O importante é conhecer e tirar suas próprias conclusões a respeito dessa cidade que tem uma igreja para cada dia do ano.

Pode ter muitos problemas (como muitas cidades do Brasil e do mundo têm) e não ser tão bonita e limpa quanto Gramado – RS, mas se você não gostar, tenho a melhor recomendação aqui pra você: Dê um jeito de chegar até o Terminal Marítimo de Salvador (que está bem perto do Mercado Modelo) e compre uma passagem de catamarã ou lancha até Morro de São Paulo.

Se você já conhece Morro e Boipeba, alugue um carro e pegue a “Linha Verde” e vá subindo por Arembepe, Guarajuba, Itacimirim, Praia do Forte, Sauípe e continue subindo, parando e conhecendo “o que é que a Bahia tem”…

Isso é só para os Loucos – Se você for um pouco louco e estiver passando por Arembepe, perto da lua cheia de Janeiro, não perca o show da malucada do Ventania, no FICA – Festival Internacional de Cultura Alternativa de Arembepe. Esse é o mais louco de todos!

Tenho afinidade por esta onda maluca – louca – hippie – alternativa por tomar banho de chapéu (isso peguei emprestado de um maluco beleza que nasceu em Salvador).

Porém, se a sua pegada é do tipo “ver e ser visto” em uma vila charmosa, com lojas de estampa refinada, de grifes internacionais e placas de rua personalizadas pelo Projeto Tamar com tartarugas carismáticas, sua parada deve ser, obrigatoriamente, em Praia do Forte.

Deixando a nave azul (que ficou na “Linha Verde”) dos cogumelos azuis do Ventania, tanto Morro de São Paulo/Boipeba quanto as praias ao Norte são ótimas opções pra você curtir/descansar/aproveitar/desfrutar…

Mas venha cá veio! Você é Bahia ou Vitória, Man??

Assim como o Abará (da Cira, mas pode ser da Regina) está na barriga daquela galera, o futebol ferve (com pimenta) no sangue dos Baianos, mas eles provavelmente vão conhecer isso por lá como Baba (e não como futebol).

Então… depois de bater aquele Baba, alguém da Tripulação vai te perguntar: E aí Pai (Man também pode ser usado aqui), vai pro REG (não é reggae) hoje??

Pode ter certeza que vai rolar um “come água” violento e a parada vai ser “Bala” e “Di Fudê”!!

Dizem que os baianos andam com a porra na boca, melhor ficar longe disso, mas você precisa entender o básico de algumas gírias soteropolitanas para não ficar boiando nos Berêguedê quando estiver por lá.

Se o seu plano é passar o carnaval em Salvador…

Tripulação… lamento decepcioná-los, mas foi uma das maiores decepções da minha vida…

Não é como mostram na televisão…

Você vai descobrir onde todas aquelas pessoas mijam (nos seus pés), enquanto pulam ao som do Bell (não é do sino da Igreja de São Francisco, é outro Bell).

Não preciso falar de como seu telefone e carteira desaparecem (isso seria como aquela primeira simples e tranquila fase daquele jogo – que você está viciado – Candy Crush)... Você vai ficar impressionado é como conseguem roubar até a sua cueca quando você está de calça jeans.

É como um colega que falou que em Feira de Santana, eles roubam pneu de caminhão, com o veículo em movimento e em alta velocidade…

E eles vão te conhecer facilmente se você abrir a boca com um sotaque diferente ou se você tiver com uma fitinha amarela na mão com os seguintes dizeres: Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia +

Shakespeare já alertava: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”.

Esqueça aquela imagem da gringa super linda com uma camiseta super feia de uma pata de um camaleão e alguns colares de Gandhy…

Te falo que você não vai encontrar nada disso por lá…

Eu gostaria que a partir de agora, quando te perguntassem sobre o carnaval de Salvador, sua resposta fosse: “Quem vai é o coelho”!

Mas caso decida realmente ir, comece a treinar, neste exato momento, Boxe, com o maior afinco da sua vida…

Vocês vão se dar conta quando acompanharem o Psirico, a Rainha Ivete ou o Bell (aquele)…

E amigo… é muita porrada até chegar nas Gordinhas de Ondina. Isso é se você ainda estiver vivo…

É melhor estar preparado!

Escolha outra época! Vá quando as pessoas que estão passando no Corredor da Vitória estão cantando: “No corredor da história – Vitória, Lapinha”…

Vá para curtir o Sarau du Brown, na tranquilidade ou o BaianaSystem, no modo mais nervoso…

Se estiver muito calor, você pode ir na Ribeira, para se refrescar com o famoso sorvete artesanal de nata goiaba, mas acho que o lugar tem mais fama do que sabor.

Tente “A Cubana”…

Se quiser pegar praia, dê apenas um mergulho na Praia do Porto, mas vá curtir sol e onda (e alguns aviões, pois é perto do aeroporto) em uma praia que está mais afastada, chamada Praia do Flamengo.

Vá também para a Bahia para curtir os bares descolados no Rio Vermelho.

Vá para Salvador para tirar fotos das placas de rua na cidade alta e aproveite para me mandar todas…

Em algum lugar por aqui deve ter o meu e-mail…

Como é a minha vez de levar uma PLACA DE RUA para a Comunidade, escolhi uma localizada na Graça, do Engenheiro Souza Lima.

Tirei muitas fotos bacanas e algumas sofisticados dos bairros mais nobres da capital, mas gostei muito dessa que reflete um pouco da realidade.

Não se pode esconder a sujeira embaixo do tapete…

A PLACA DE RUA de hoje está legal, pois há ali alguma propaganda política, de algum candidato e isso acontece muito, principalmente nos bairros mais humildes.

Você também vai notar muitas caixas d’água em cima dos barracos, gatos de energia, um maluco dizendo “Colé, misera!” e variados cartazes do tipo “trago a pessoa amada em 3 dias”.

A placa da rua Engenheiro Souza Lima está na cor azul, mas um pouco desbotada, ou melhor dizendo, fubenta.

A maresia é deliciosa, mas não perdoa!

É tipo rapadura, que é doce, mas não é mole não!

Por isso é complicado manter placas de metal em perfeito estado de conservação nas cidades litorâneas.

Álvaro Pereira de Souza Lima foi um engenheiro (civil, elétrico e mecânico) e político brasileiro.

Nasceu em Juiz de Fora, em 23 de maio de 1890 e faleceu em São Paulo, no dia 05 de maio de 1968.

Exerceu diversos cargos de relevância política na Era Vargas…

Gosto de Salvador e acho que alguma coisa me liga àquela cidade. Já estive por lá 5 vezes e minha namorada é natural de lá. Não sei se alguma coisa me prende ali, mas sempre que estou vendo os tentáculos de Brotas, fico com vontade fixar uma residência em Itapuã, me enturmar com a Tripulação da antropologia e estudar aquela cidade e seu povo a fundo…

Não sei se isso é uma tarefa do tipo Barril, mas é algo que me dá vontade de fazer…

Não acho que pegar o Elevador Lacerda seja uma coisa a se fazer por lá, mas a vista da Baía de Todos os Santos é preciosa.

Ainda mais espetacular em Salvador é a vista desde o Forte de Monte Serrat, na Ponta de Humaitá. Na verdade, essa é a vista mais espetacular de Salvador e da entrada da Baía de Todos os Santos.

A Bahia tem um jeito, que nenhuma terra tem!

Deixe de Calundu! Se você ainda não foi à Bahia…

Então vá!!

Old Misa

#28 – Plaza Mayor – Colonia del Sacramento – Uruguay
#30 – Via Paolo VI – Vaticano – Città del Vaticano

Comments

  1. Discorreu sobre a Bahia como nunca tinha lido antes, parabéns Old.
    Me fez lembrar de bons momentos na companhia da minha esposa em Salvador.

  2. Passei em Salvador apenas uma noite, não conheci nada… confesso queria voltar pelo carnaval! Depois de ler esse texto rico e único, já deu vontade de retornar à terrinha que realmente tem um jeito que nenhuma outra tem! Suas dicas foram indispensáveis!! Abraço

  3. Como Sotorepolitano que sou, me ´´poquei´´ de rir, ao encontrar essa dissertação escrito por uma pessoa inteligente e que descreveu muito bem com o nosso ´´Baianês´´, parabéns. É isso ai mesmo meu Brode.

    • Que Massa Sílvio!!
      Fico muito feliz em saber!!
      Sou um grande fã da sua cidade, cultura e também do “Baianês”…
      Muito obrigado mesmo irmão!!
      Abraço

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