#47 – ممر باب اكناو – Passage Bab Agnaou – Marraquexe – Marrocos
Assim como Copenhague, capital da Dinamarca, que também pode ser Copenhagua, Copenhagen, Copenhage (ou se preferir, como a tradicional grife de chocolates finos Kopenhagen), uma cidade no Norte da África herdou a mesma sina…
Marraquexe para os portugueses; Marrakech para os franceses; Marrakesh para os ingleses; Marrakesch para os alemães; Marrakesz para os poloneses e Marrakex para os bascos…
Apesar de todas essas trocas, evidentemente com uma leve variação de sotaques, o som é o mesmo…
Sem querer entrar na briga entre os acadêmicos da língua portuguesa e o pessoal do Direito Internacional, há um Tratado importante que foi promulgado no ano de 2018, intitulado como “Tratado de Marraqueche” (Marraqueche com a grafia “CH” mesmo).
Enfim…
O fato é que a quarta maior cidade do Reino do Marrocos, situada na beira da Cordilheira do Atlas é uma atração maravilhosa e disruptiva que vai mexer (não mecher) com a sua cabeça…
Para começar, seu passaporte será carimbado na última página do seu documento de viagem…
A ordem de vistos e carimbos obedecerá mecanicamente a disposição organizada que tem início na última página e término na primeira folha do documento…
Pode ser estranho para nós, mas esse raciocínio segue a mesma lógica pela qual os árabes escrevem da direita para a esquerda ou “ao contrário” como dizem alguns ocidentais…
É claro que pela perspectiva deles, nós também escrevemos “ao contrário”, mas tudo bem…
Ao deixar o aeroporto e pegar o primeiro táxi, você conhecerá um tipo existente e bastante comum por lá, “o aproveitador”, que não irá fazer nenhum esforço para falar outro língua que não seja o árabe, mas que te dará um largo, frouxo e falso sorriso, que é como uma possível tradução de “trouxa”, se você tiver apenas euros…
Você está jogando fora de casa, amigo!
A negociação ainda é uma arte e deve ser exercida com maestria fora de casa, principalmente quando estamos lidando com árabes…
Porém, você nem vai notar isso…
Haverá uma coisa que desviará totalmente sua atenção e isso é o trânsito louco e caótico de Marraquexe…
A faixa que divide os dois sentidos da via é como se fosse apenas uma linha de tinta jogada aleatoriamente sem nenhum significado como um risco que uma criança de dois anos faz em uma parede branca que não podia ser riscada aos olhos de uma mãe severa…
Parece mais com um jogo de um vídeo game antigo em que o objetivo consiste em desviar de carros, caminhões, bicicletas, motos, dromedários, lambretas, tuk-tuks adaptados, burros, caminhonete que transporta basicamente carga viva, mobiletes, cavalos, patinetes e distintas carroças com variações inimagináveis…
Tudo isso sem um mínimo de referencial do que é mão e contramão…
A primeira buzinada quer dizer: “e que os jogos comecem”…
A boa notícia é que esse percurso não é tão longe (apenas 6 km) e uma vez no centro de Marraquexe, se pode fazer tudo a pé…
Porém, antes de começar a explorar a cidade, é preciso ir até o seu hotel para fazer o check-in…
É nessa hora que o funcionário (ou o dono do hotel) te alertará com algumas dicas práticas e poucos conselhos necessários que devem ser usados enquanto você estiver em território árabe…
Mesmo que ele esteja cuspindo uma mistura de palavras entre o árabe, o francês, o espanhol e o inglês, você deve escutar atentamente como um mecânico novato que examina um motor que está produzindo um som estranho…
Duas coisas devem ser guardadas…
Já ouviu aquela frase: “Cuidado! As palavras têm poder!”, pois é, no Marrocos até as palavras inocentes e ditas de “brincadeira” tem validade como uma autenticação de um cartório idôneo…
Nada de falar que vai trocar sua namorada por dez dromedários…
Recorde que no mundo árabe, negócios milionários são firmados apenas com um simples aperto de mãos…
A segunda coisa é que, é um mundo extremamente machista e apesar de o turismo ser uma das maiores injeções de dinheiro no país, as coisas ainda não mudaram muito por lá…
Dicas gravadas, então é hora de conhecer a urbe…
E a atração principal da cidade é a Praça Jemaa el-Fna…
Jemaa el-Fna é uma das praças mais célebres, loucas e icônicas do mundo…
A fauna da praça é composta basicamente por: mágicos, acrobatas, encantadores de serpentes, vendedores de suco de laranja, dançarinos, bérberes, curandeiros, saltimbancos, engraxates, faquires, engolidores de espadas, quiromantes, tatuadoras de hena, músicos, contadores de estórias, vendedores de temperos, cambistas, pedintes e mendigos.
E claro, os pickpockets são responsáveis pelo amálgama da praça…
Com tanta peça rara, é claro que a Unesco não poderia deixar de fora de sua lista seleta, um sítio tão precioso…
Do mesmo modo que o sol dá lugar à lua, quando cai a noite a praça se transforma e os encantadores de serpentes cedem seus lugares para comerciantes espertos que tentam te fisgar pelo cheiro dos temperos das várias barraquinhas de comida ao ar livre…
Se ligue apenas nas condições básicas de higiene…
Da Jemaa el-Fna até o local mais sagrado para os muçulmanos é um pulo de apenas 500 metros…
E este local respeitado e cultuado é a Mesquita Koutobia.
Assim como em todos os locais religiosos de Marraquexe e também do Marrocos, é permitida a entrada apenas à muçulmanos…
Koutobia é uma das construções mais antigas da cidade e o símbolo mais visível de Marraquexe…
É do alto dos 77 metros desta mesquita que ecoam as cinco badaladas diárias que são um alerta para o esperado momento sagrado de oração…
Mesmo não podendo entrar na mesquita, o exterior já vale a pena e há um jardim da Koutobia ao lado da mesquita, e este sim, pode ser frequentado pelo público em geral…
Porém, o jardim que deve merecer sua visita é o Le Jardin Majorelle…
Majorelle é o jardim mais famoso de Marraquexe e ostenta uma mistura de cactos, bambus e plantas exóticas contrastando com a cor azul majorelle das instalações…
Outro ponto que merece atenção é o da PLACA DE RUA de hoje.
Bab Agnaou é apenas uma das 19 portas de Marraquexe.
É uma passagem…
Essa porta é documentada como a segunda construção mais antiga em pedra da cidade (a primeira foi a torre da mesquita Koutobia).
É a entrada da parte da zona de kasbah, na parte sul da cidade e a função da porta, como entrada real, é sobretudo decorativa…
E esta é a porta que você deve atravessar para chegar ao palácio El Badi…
El Badi em árabe quer dizer “palácio do incomparável”…
Hoje é um palácio em ruínas, mas já teve seu brilho ao sol em um passado longínquo…
Foi construído pelo Sultão Amade Almançor pouco depois de ter subido ao trono em 1578, para comemorar a sua vitória na Batalha de Alcácer-Quibir…
Saindo do El Badi, haverá um local religioso, mas que é uma exceção e pode ser visitado por não muçulmanos…
Por isso, não perca!
Essa exceção merece destaque pois nos dá uma pequena mostra de como é o interior arquitetônico dos espaços sagrados marroquinos…
O lugar é conhecido como Medersa Ben Youssef…
Ben Youssef é repleto de arcadas, mármores, mosaicos e azulejos coloridos…
Agora que você conheceu as mais importantes atrações de Marraquexe, e se lembrou de que o dono do hotel falou que não há bebidas alcoólicas nos bares, ou melhor, quase não há bares, é hora de se perder um pouco pelos labirintos dos Souks da cidade…
Os Souks são os principais mercados de rua de Marraquexe…
Ainda exerce certo fascínio em um lugar que nasceu do comércio…
São quilômetros de lojas, tendas, barracas e lonas coloridas com mais de 800 anos de existência…
Lembra da maestria na arte da negociação? pois aqui ela será testada nos limites máximos de temperatura e pressão…
Não desvie seu olhar para os tapetes, quadros, especiarias ou até mesmo para o retrato do Rei Mohammed VI que estará pendurado em todas as lojas e estabelecimentos da cidade…
No Souk o que vale é olho no olho…
Não existe um preço na gôndola em que seu olho ligeiro e traiçoeiro enxerga antes do produto…
Lembre-se dos vendedores de rede que estão agora em Fortaleza…
Lembre-se de que no dia seguinte você estará em um dromedário no meio do deserto sentindo na pele as variações extremas de calor e de frio com um turbante azul fazendo selfies e stories como um retardado…
Lembre-se de um pensador francês, chamado Charles Fourier, que disse: “o comércio é a arte de comprar por 3 francos o que vale 6, e de vender por 6 francos o que vale 3”…
Lembre-se do final da música “como tudo deve ser”, do Charlie Brown Jr.: “Vamos viver os nossos sonhos, temos tão pouco tempo”…
Feliz Sexta!
Old Misa